Ensaios de Amor

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E porque hoje é dia de celebrar o sentimento mais falado e pensado de sempre, partilho convosco o livro mais interessante que li até hoje sobre estes assuntos do coração.  Poético, filosófico, inteligente e extremamente bem escrito aqui fica (em tópicos) algumas das suas reflexões mais interessantes.

Amamos para fugir de nós próprios
Talvez a origem de certo tipo de amor esteja no instinto de fugirmos de nós próprios e das nossas fraquezas, mediante uma aliança com aquele que achamos belo e poderoso. Albert Camus diz que nos apaixonamos por pessoas porque, de fora, parecem tão em ordem, e emocionalmente organizadas, quando nós próprios nos sentimos dispersos e confusos. Não amaríamos se não sentíssemos em nós uma falta qualquer, mas, paradoxalmente, surpreende-nos verificar uma falta semelhante no outro. Cheios de esperança de encontrar uma resposta, encontramos, afinal, um duplicado do nosso mesmo problema.

É mais fácil amar do que ser amado
Ser amado é sempre a mais complicadas das duas, pois é mais fácil disparar a seta do cupido do que ser seu alvo. É mais fácil dar do que receber. Para quem não está completamente convencido de que merece ser amado, ser alvo de carinho é como receber uma grande honra sem perceber bem porquê. Um amor não correspondido pode ser doloroso, mas não oferece perigo já que não implica o sofrimento de ninguém, a não ser de nós próprios. Mas mal o amor é correspondido, temos de estar preparados para abandonar a passividade de sermos magoados e assumir a responsabilidade de inspirarmos nós o sofrimento.

Gosto de ti, logo magoar-te-ei
A crueldade a que assistimos entre apaixonados nunca seria tolerada em condições que não fossem de inimizade declarada. Gosto de ti, logo irritar-te-ei, honrarei-te com uma visão de como deverias ser, logo magoar-te-ei. Nunca somos tão implacáveis com os nossos amigos como somos com quem amamos. Equiparamos a intimidade a uma forma de posse e direito. Continuamos a amar, mas pomos de lado a cortesia.


Sentido de Humor
Humor, o ingrediente que poucas relações possuem mas que se existisse em abundância provavelmente as salvaria da intolerância. Não deixa de ser significativo que revolucionários e amantes tenham em comum a tendência para uma grande seriedade. E com a incapacidade de rir vem a incapacidade de reconhecer a relatividade das coisas humanas, as contradições das relações, a multiplicidade e choque de desejos, a necessidade de aceitar que o parceiro nunca há-de aprender a estacionar o carro, ou a lavar a banheira -  mas que, mesmo assim, o amamos. O humor ajuda-nos a ultrapassar as diferenças e a vivê-las de uma forma mais leve. Fazer piadas sobre as dificuldades que encontramos no caráter do outro, é sempre mais saudável que a dura crítica. O humor elimina a necessidade de confronto direto, permite deslizar sobre a irritação e dirige uma crítica sem ter que a proferir

Vocabulário do Amor
Uma camisola pode ser um sinal de amor entre duas pessoas, mas não substitui a tradução dos sentimentos por palavras. No entanto, a declaração de amor está perigosamente tão perto do lugar-comum como da nudez total.  A linguagem do amor foi corrompida pelo excesso de uso. Parece ter deixado de haver maneira de carregar de amor a palavra A-M-O-R sem, ao mesmo tempo, encher o cesto com as mais banais associações.

Intimidade
O inicio do amor parece carregar consigo um medo de dissolução. Não é que eu não te deseje, mas tenho medo que de só te desejar a ti e de descobrir que de mim nada resta. A convivência, no entanto, vai trazendo consigo um grau de intimidade no qual as fronteiras entre amantes passam a não ser atentamente vigiadas  Os corpos deixam de se sentir vigiados ou avaliados. Já conseguimos manter o silêncio, deixamos de ser paranoicamente faladores, receosos de deixar morrer a conversa. Cada um de nos torna-se, aos olhos do outro, confiante, tornando a sedução perpétua obsoleta.


Confirmação do eu
O homem é um animal social e e apenas os humanos precisam um dos outros para se definir e conhecer a si próprios, ao contrário dos animais. Não podemos ter uma noção correta de nós próprios se não existirem outros para nos mostrarem como somos. Sem amor, perdemos a capacidade de possuir uma identidade própria; com amor, há uma confirmação permanente do eu. Cercados de pessoas que não se lembram bem de nós, não é reconfortante saber que podemos refugiar-nos dos perigos da invisibilidade nos braços de alguém que tem a nossa identidade bem presente?

Intermitências do coração
Sejamos ou não felizes com o nosso parceiro, o amor que sentimos por ele impede-nos necessariamente de iniciar outras ligações românticas. Mas porque há-de isso constranger-nos, se amamos sinceramente? Porque havemos de considerar isso uma perda se o amor pelo parceiro ainda não esmoreceu? A resposta talvez esteja na ideia desconfortável de que, quando satisfazemos a nossa necessidade de ser amados, nem sempre eliminamos a nossa necessidade de desejar.

O Medo da Felicidade
Um dos maiores inconvenientes do amor é que nos faz, pelo menos durante algum tempo, correr o risco de sermos verdadeiramente felizes. E o problema da felicidade é que, por ser rara, se torna extremamente assustadora e provoca uma enorme ansiedade. E embora a sua procura seja um objetivo central confessado, é muitas vezes acompanhado por uma fé implícita que ela será alcançada algures, num muito distante futuro e não no momento presente. Perceber que a felicidade terrena pode estar ao alcance das nossas mãos pode por vezes (como acontece com a personagem principal do livro) provocar reações fisiológicas violentas destinadas a frustar tal possibilidade.

A ansiedade que amar traz prende-se também em parte com o facto que a causa da nossa felicidade pode desaparecer facilmente. De um momento para o outro, o outro pode desinteressar-se, morrer, casar com outro. O que pode levar por vezes a um desejo de matar o caso amoroso antes que ele atinja o seu fim natural; um assassínio cometido não por ódio, mas por excesso de amor - ou melhor, pelo medo que o excesso de amor pode causar. Muitos amantes matam a sua própria história de amor só porque não conseguem suportar a incerteza ou o puro risco contido na sua experiência de felicidade.

Lições de amor
Não será uma ambição legítima desejar ser sábio no amor, tal como se pode ser sábio no que toca à alimentação ou dinheiro? Começamos a procurar a sabedoria quando nos apercebemos de que não nascemos a saber viver, a vida é uma competência que precisamos de adquirir, como quem aprende a andar de bicicleta ou a tocar piano. Diz-nos para controlarmos a nossa imaginação, que ela irá distorcer a realidade e transformar tempestades em copos de água, ou sapos em príncipes. Ela diz-nos para debelarmos os nossos medos, de modo a recearmos o que nos é prejudicial sem desperdiçar as nossas energias a fugir de sombras na parede. Diz-nos que não devemos temer a morte e que só devemos ter medo do próprio medo.

Feliz Dia de São Valentim!

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