A arte do contentamento


Sou uma compradora assídua da Revista Flow. Desde que a descobri (em Novembro de 2016) que   raramente falho uma edição e guardo-as com o mesmo cuidado e amor com que guardo os meus livros preferidos. O facto de ser trimestral faz com que o valor elevado que pago por ela (cerca de 16 euros) se diluia, e nada me dá mais prazer que as colecionar e muitas vezes reler artigos preferidos.


E é justamente esse um dos aspectos que mais gosto na Flow. A estética é realmente fantástica, mas o melhor de tudo (na minha opinião) é que elas a conciliam com conteúdos verdadeiramente interessantes e inspiradores. Se fosse só uma revista bonita tenho a certeza que não lhe teria o mesmo carinho e admiração.

E curiosamente no outro dia ao folhear uma das últimas edições (apenas por curiosidade e à procura de inspiração) acabei por ficar presa a um artigo que naquele dia (mais do que em qualquer outro) me fez sentido e me chamou a atenção chamado "Just Right"

Baseado no conceito sueco de "Lagom" que deu recentemente origem a este livro homónimo,  significa "not too much, not too little; just right". E é um apelo ao equilíbrio e à moderação, de forma a encontrarmos um ponto certo entre aquilo que desejamos e aquilo que temos.


Porque é justamente esse sentimento de aceitação (de que tudo está simplesmente certo) que nos pode proporcionar uma certa tranquilidade em relação à vida.  Digam lá se não sabe bem a ideia de tudo o que temos neste momento na nossa vida é "just right" (o nosso emprego, o nosso casamento, a nossa casa, o nosso sucesso, etc..)

"Ter sucesso é alcançar o que desejamos, ser feliz é desejarmos aquilo que alcançamos."

E de repente dei por mim a ter consciência da urgência de transportar este sentimento (que não é mais do que  uma prática da arte do contentamento)  para o meu trabalho e para as minhas criações. É que não me perguntem porquê, mas nos últimos meses tenho-me tornado excessivamente insatisfeita com elas. Nunca são boas o suficiente, bonitas o suficiente, apelativas o suficiente...


E como depois racionalmente vejo que isso não faz sentido porque tenho tido bom feedback de muita gente, apercebo-me que é mesmo um problema interior. E de repente lembro-me de uma frase da Elizabeth Gilbert que diz: "It´s such a vulnerable thing, to make something and put it out there in the world" e tento perdoar-me por ser assim tão intensa, tão inquieta, tão insatisfeita.

(É que uma certa dose de insatisfação é bom e salutar (permite-nos crescer e evoluir), em quantidades excessivas acaba por matar toda a alegria e prazer que temos em fazer e criar coisas)

E então decidi que vou começar a fazer um esforço consciente para aceitar que tudo o que consigo criar e produzir neste momento face aos conhecimentos, experiência, tempo e possibilidades económicas que tenho é também o "just right".

                                                                                             Imagens Homes in Colour

E ao acabar de escrever este post (e depois de refletir um pouco) também me apercebo que o que pode estar na origem deste excesso de insatisfação que me tem invadido ultimamente pode ser o facto de através das redes sociais me ter tornado demasiado atenta ao trabalho de tanta gente tão boa que existe por esse mundo fora e ter-me começado a comparar (bem se diz que a comparação é a morte do artista).

E vem-me à cabeça outra frase, desta vez da Kris Carr que é qualquer coisa do género: "When I look to much to other people I lose sense of myself." E faço um compromisso comigo mesma de estar atenta aos outros q.b, mas acima de tudo focar-me e fazer o meu trabalho com amor e dedicação (porque certamente ninguém o vai fazer por mim).

E fico contente por aquele artigo da Flow me ter caído no colo de repente pois sinto que mais uma vez os nossos amigos nórdicos  (já conhecidos por marcar os pontos mais altos no marcador da felicidade) vieram-me relembrar de coisas fundamentais (que muitas vezes são tão fáceis de esquecer). Beijinhos e boa semana a quem está desse lado*

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