Ando quase convencido de que por mais atalhos que
imagine ter descoberto, só o amor recicla o meu caminho.
João Correia
Imagem via Unsplash
Apaixonarmo-nos
Dantes achava que havia muitas espécies de amor. Mas depois, apaixonei-me. - Miguel Esteves Cardoso
Devagar ou rapidamente, num olhar, num toque ou num beijo, o coração apanha-nos de surpresa. Apaixonamo-nos por alguém, por muito improvável, difícil ou impossível que nos possa parecer.
E apercebemo-nos, meio atordoados, que apaixonarmo-nos é tão inevitável quanto irracional, e que ao contrário da filosofia popular, não há amor como o último.
Alguém nos cativou.
Um estranho sentimento de familiaridade a uma pessoa que ainda mal conhecemos apodera-se de nós. Como se já nos fosse conhecida de um outro sítio qualquer (talvez dos nossos sonhos ou de uma outra vida) .
E de repente começamos a nutrir um profundo interesse por ela ( o desconhecido é sempre promissor e entusiasmante)
Há agora uma ponte a atravessar e mistérios para descobrir sobre aquele(a) que ocupa agora grande parte dos nossos desejos e pensamentos.
E por isso é incontestavelmente mais fácil apaixonarmo-nos por alguém que ainda mal conhecemos.
Imagem via Pinterest
Numa fase inicial, detectar as semelhanças que nos unem é sempre mais simples que descobrir as diferenças que nos afastam. E assim apaixonamo-nos com base em provas insuficientes e depois completamos aquilo que desconhecemos com os nossos desejos e projeções mentais.
Talvez por isso, os melhores romances sejam muitas vezes aqueles que vivemos no silêncio da nossa imaginação, resguardados da desilusão que o confronto com a realidade muitas vezes acarreta.
A necessidade de amar traz por vezes a alucinação de uma pessoa ideal, tal como num deserto a miragem de um oásis pode fazer que um homem com sede veja água, palmeiras e sombra.
Apaixonarmo-nos pode ser fácil.
Como diz Miguel Esteves Cardoso, qualquer palerma se apaixona.
Mas é preciso algo mais para fazer um amor durar.
O Fim de um Amor
Se o amor é uma aventura que desejamos viver a dois, pode, no entanto, tornar-se um empreendimento solitário e profundamente doloroso quando a seta do cupido não dispara em ambas as direções (ou quando um dos dois deixa de amar).
Se o início de um amor pode ser cor-de-rosa e feliz, o seu fim pode ser proporcionalmente negro e sofrido.
Porque se o amor pode acontecer à primeira vista (ou ao primeiro beijo), não morre com a mesma rapidez.
Imagem via Pinterest
Os desgostos de amor fazem parte da vida e não há amor sem risco de perda, quer estejamos com alguém apenas por algumas noites ou por vários anos.
Aceitar amar é, por isso, aceitar o risco da perda.
E se o amor por um outro pode constituir (no caso de relacionamentos longos) parte da essência do nosso ser, o seu fim definitivo pode significar, consequentemente, a morte de uma parte de nós.
Quando um amor importante termina, questionamo-nos se algum dia voltaremos a viver e a amar, já que o seu fim nada mais é que um longo, sufocante e solitário deserto, que não sabemos se conseguiremos atravessar.
Imagem via Pinterest
A dor e o vazio parecem não se extinguir até que, inevitavelmente, começamos a esquecer.
E então mais tarde descobrimos que o se o fim de uma relação nem sempre é o fim do amor, não é, certamente, o fim da vida.
Como Esquecer Alguém que se Ama
Com tempo.
(porque por muito que queiramos, não dá para dar ordem de despejo àqueles que se alojaram no nosso coração).
Devagar. É preciso esquecer devagar .
E com paciência (não há qualquer sabedoria no esquecimento).
Se uma pessoa tenta esquecer-se
de repente, a outra pode ficar-lhe
para sempre.
- M I G U E L E S T E V E S C A R D O S O
É preciso aguentar a brutalidade da dor e dar tempo ao coração para se curar (porque o tempo é o único e verdadeiro aliado).
Imagem Zack Magiezi
Até que chega um dia ( muitos dias depois ) em que os lugares por onde tínhamos passado juntos deixam lentamente de provocar a tristeza de outrora, e as associações a situações e momentos passados juntos vão sendo esbatidos e substituídos por outros.
O mundo começa finalmente a recompor-se (dentro e fora de nós).
E vamo-nos tornando mais leves à medida que sacudimos das costas recordações e saudades que se espalham num deserto onde a areia do tempo as vai lentamente enterrando.
Imagem via Pinterest
Ficam cicatrizes, mas já não doem. São simplesmente a marca de que a vida nos aconteceu.
E começa-se a reconquistar gradualmente o eu, a criar novos hábitos e a construir uma nova identidade já não somos exatamente a mesma pessoa que éramos.
Somos obrigados a reinventarmo-nos.
Esquecer um outro pode significar, talvez, re-descobrir quem verdadeiramente somos.
Os amores que vivi e os que perdi ensinaram-me sempre alguma coisa e mostraram-me o quão importante é sermos sábios no amor, tal como tentamos ser sábios no que toca à nossa alimentação e às nossas finanças.
Partilho aqui algumas das lições que aprendi ( e outras em que continuo a ser uma eterna aprendiz ).
1 | Devemos baixar as nossas expectativas e esperar um pouco menos do amor, ou iremos inevitavelmente desiludirmo-nos. Por muito duro que possa soar, ninguém está aqui para nos fazer felizes a full-time.
2 | Devemos controlar a nossa imaginação e ser um pouco mais sensatos no amor, ou ela irá distorcer a realidade e transformar tempestades em copos de água e sapos em príncipes.
3 | Ninguém é insubstituível e tudo se supera (mesmo aquilo que parece insuperável)
4 | Existem várias pessoas que podemos amar e que nos podem amar pois o amor não é um recurso finito. Às vezes, a cura demora tempo, mas se aquele que gostámos não ficou, não correspondeu ou não nos quis, é porque não era para nós. Mais tarde, quando encontramos alguém que nos faz acreditar novamente no amor, ficaremos gratos por todos os outros não terem dado certo.
5 | O amor é um risco que (às vezes) vale a pena correr.
6 | Na nossa vida devem sempre existir espaços (de preferência amplos) para outros amores para além do amor que nutrimos por outra pessoa. Espaço para o amor pelos nossos amigos; espaço para o amor pelos os nossos projetos e criações; espaço para o amor pelos os nossos hobbies e pela pessoa que somos.
7 | O amor é misterioso e imprevisível e, quando menos esperamos, podemos voltar a apaixonarmo-nos.
Imagem via Pinterest
E de todas as formas de amar e amor, não podemos, não devemos jamais esquecer o amor próprio ❤️
ResponderEliminarTalvez um dos mais difíceis de manter e o mais fácil de esquecer. Obrigada por o recordares😊❤️
Eliminar