Não sei se sentem o mesmo, mas nos tempos em que vivemos, distrairmo-nos é a coisa mais fácil do mundo. No meu caso, que me distraio com a mais pequena coisa, preciso de uma disciplina interior gigante para me manter focada e não me afogar no mar de informações e conteúdos no qual estou permanentemente mergulhada.
Fala-se muito hoje em dia no impacto que o tempo passado em frente aos écrãs pode ter na nossa vida e na nossa saúde mental. Mas na minha opinião, ainda há outra consequência igualmente preocupante, que é tudo aquilo que deixamos de fazer por estarmos a consumir conteúdos. Não digo que ver coisas que nos motivam, entretêm ou inspiram, seja mau. Temos é que ter consciência que podem ser barreiras ao nosso próprio trabalho criativo.
Há mais de dois anos que tinha em mente alguns projetos que não estava a conseguir concretizar por alegada "falta de tempo". No entanto, desde que há uns meses eliminei a televisão e a Netflix da minha vida, e reduzi bastante o tempo que passo ao telemóvel, consegui (finalmente) começar a concretizá-los todos (um deles, era justamente o regresso aqui ao blog).
In the Studio
Por isso, mudar o paradigma de consumidor para criador é fundamental, principalmente se somos criativos e queremos dar vida aos nossos projetos. Bem sei que é muito mais fácil consumir do que criar, mas é na esfera da criação que as coisas interessantes da vida acontecem.
"The difference between you and the creators you follow is simply: they are creating while you are consuming" Nathan Barry
E quando falo em criar, é no sentido lato do termo. Pode ser escrever, fazer vídeos para o Youtube, criar um micro-negócio, fotografar, compôr música, fazer arranjos florais, inventar receitas ,etc. Se têm como objetivo viver do vosso trabalho criativo, é preciso reformular rapidamente as horas passadas em frente aos écrãs porque, da minha experiência, essa é uma das maiores causas da procrastinação.
Alguns dos meus materiais de trabalho
Personal Fulfillment Versus Consumption
Se olharmos para a estatísticas ou para a nossa própria experiência pessoal, não é difícil constatar que o género de atividades que nos fazem sentir mais felizes e realizados não são aquelas em que ficamos horas em frente ao Instagram, ou a ver séries em modo non stop na Netflix (como eu fazia). Na maior parte das vezes, aquilo que nos proporciona sentimentos de realização pessoal e um sentido de propósito são as atividades em que estamos a criar coisas ou com as nossas mãos ou com a nossa mente.
The things that disproportionately create fulfillment for human beings are creative activities rather than consumptive activities. - Ali Abdaal
Algumas estratégias que utilizo
1 | Criar algo todos os dias
E isto pode ser tão simples como fazer um pequeno vídeo, tirar uma fotografia interessante, experimentar uma receita nova, transformar uma ideia num post de blog (como eu fiz aqui), fazer o esboço de um projeto novo, escrever um poema, mudar qualquer coisa em casa, etc.
Não tem que ser nada de extraordinário (muito menos uma obra de arte), apenas uma pequena atividade criativa que vos comece a colocar na prateleira dos criadores.
Se sentem dificuldade em criar algo interessante, experimentem baixar a fasquia e criem algo extremamente simples todos os dias. Ao fim alguns meses ou de um ano, vão ficar agradavelmente surpreendidos com a quantidade de coisas criadas.
"Create consistently. Be patient for results" Nathan Barry
2 | Documentar as coisas criadas
Para além de criar, acredito que documentar é uma parte extremamente importante (e por vezes ligeiramente negligenciada) do processo criativo. Pessoalmente, tenho feito um esforço nos últimos tempos por partilhar o behind the scenes do meu trabalho, mas bem sei que nem sempre é fácil ou que nem sempre há tempo.
Mas é justamente este conceito de trabalhar em público que está por detrás dos criadores que mais gostamos e admiramos. Eles mostram não só o trabalho final, mas documentam e partilham o processo. E por isso é que gostamos tanto de os seguir. E é por isso que outras pessoas provavelmente também vão ter interesse em seguir-vos.
Muitas vezes somos bons a criar coisas, mas partilhar o processo e a jornada exige um esforço extra. Mas no final é isso que faz a diferença.
Desenho de Austin Kleon, do livro "Show your Work"
3 | Agendar tempo de criação para as atividades criativas
Tenho vindo a concluir que fechar na minha agenda blocos de tempo para certas atividades criativas, é a melhor maneira de garantir que as irei concretizar. Se ficar só na minha cabeça ou no meu desejo de criar, provavelmente não acontecem. Mas a partir do momento em que estão na agenda e tenho um horário específico para elas, é caminho certo para se realizarem.
As agendas enchem-se com coisas que parecem urgentes, mas que muitas vezes não o são. Assumir o controlo é reservar tempo para criar. Olhem para o vosso calendário e reservem 40/60 minutos por dia com a indicação exata do que planeiam fazer. Assim, quando chegar o momento já terão esse tempo reservado e será mais claro saber por onde começar.
4 | Don´t break the chain
Cada vez acho mais interessante a ideia de fazer uma sequência de dias seguidos dedicados a uma tarefa criativa, e não a interromper. Primeiro, porque nos dá um objetivo muito concreto. Depois, à medida que o tempo passa, vamos criando o compromisso e depois não o queremos quebrar pois o entusiasmo vai crescendo. Como tenho partilhado convosco no Instagram, para além do meu trabalho habitual na cerâmica, tenho estado dedicada a criar um projeto que envolve azulejos. E de há umas semanas para cá tenho feito todos os dias algo que envolve esse projeto. E quanto mais faço, mais entusiasmada estou e mais interessantes vão sendo os resultados, e mais vontade tenho de continuar.
Cria a tua própria sequência de criação diária e mantém-na.
A explorar cores e padrões
5 | Definir um objetivo
Trabalhar com um objetivo em mente também me parece uma boa estratégia. Seja lançar um curso, alcançar mais seguidores no Instagram, fazer uma exposição, escrever um livro ou compôr uma música nova, ter um objetivo específico em mente pode ser um forte impulsionador criativo.
Eu pessoalmente tenho alguns, nomeadamente: participar no próximo ano no Lisbon by Design ou no Lisbon Design Week e até ao final de 2026 chegar aos 15.000 seguidores no Instagram. O Instagram é hoje a minha ferramenta principal de negócio, pelo que quantas mais pessoas conhecerem o meu trabalho, mais probabilidades tenho de o comercializar. Pelo que estes são alguns dos objetivos que tenho neste momentos traçados para mim.
6 | Ser arqueólogo em vez de arquiteto
Começa hoje e tenta não quebrar a corrente.
Bom trabalho!
Um abraço,
Sofia







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