Design de Interiores e fotos Alexandra Killion
E por aqui, temos hoje um post tão eclético como a casa que vos trago. Gosto desta ideia de misturar três coisas diferentes numa só: decoração, arte e poesia. E tentar, de alguma forma, que elas casem entre si.
Como já partilhei convosco, olhar para interiores de casas é muitas vezes o ponto de partida para as minhas próprias criações, e por isso sou leitora assídua de revistas de decoração há muitos anos. E embora durante muito tempo tenha sido profundamente fiel à Elle Decoration inglesa, ultimamente tenho preferido a Living Etc, cujas opções estéticas estão neste momento mais próximas dos meus gostos.
E hoje começo por partilhar uma casa que noutras alturas da minha vida não me teria chamado tanto a atenção mas que agora, talvez por andar mais desperta e interessada em cor, achei super interessante.
Uma Casa
O projeto é da Alexandra Killion Interiors, designer de interiores sediada em Houston, que alia o sofisticado ao lúdico, criando ambientes elegantes mas ao mesmo tempo confortáveis, num conceito de "livable luxury". A sua estética integra influências de viagens e das suas raízes no sul dos Estados Unidos.
Um dos aspetos que mais gosto no seu trabalho é a forma interessante como conjuga peças de inspiração antiga ou vintage com design moderno e contemporâneo, para criar ambientes mais ricos e ecléticos. E são justamente essas combinações inesperadas entre o clássico e o contemporâneo que dão um toque especial ao seu trabalho.
Eu que geralmente prefiro espaços mais clean e com menos cor, adoro esta sala e a forma como a designer conjugou (com estilo e sofisticação) a paleta dos rosas com o azul e o amarelo. Quando vejo espaços assim, até me dá vontade de arriscar em peças de maior escala com cor cá por casa. Neste momento, os únicos pontos de cor que tenho são o azul cobalto das almofadas do sofá da sala e o verde das plantas, pelo que se calhar (para começar) talvez pense nuns prints coloridos para dar mais vida às minhas paredes, também elas bastante clean neste momento.
Uma curiosidade engraçada: em Março de 2021 escrevi um post sobre tendências em decoração, em que os arcos e as formas arqueadas estavam em destaque. E como podemos ver neste projeto (e em muitos outros que continuam a aparecer nas redes sociais), essa tendência continua em força, e a ser utilizada em muitos projetos. Pessoalmente, gosto bastante.
Para este post fiz uma pequena seleção das fotografias e espaços que mais gostei, mas vale a pena ver o projeto completo da casa aqui.
(P.S. - há uma casa de banho com um espalho circular laranja que maravilhoso, que vale a pena espreitar.).
Um Artista
Descobri muito recentemente as pinturas da Helen Simmonds e fiquei completamente encantada. Nascida em 1962 em Inglaterra, Helen Simmonds formou-se em Escultura com distinção na Bath Academy of Art. No entanto, tem sido à pintura que se tem dedicado, principalmente ao género clássico das naturezas-mortas, retratando de uma forma muito especial objetos do seu quotidiano como frutas, flores, livros e peças de cerâmica antigas, em composições simples mas belas.
Primeiro, gosto do facto da artista dar uma abordagem nova a um tema tão antigo e já explorado como as naturezas mortas. Considerado durante muitos anos um género menor na pintura, só mais tarde, sobretudo no século XIX e XX, com artistas como Cézanne, Van Gogh e os cubistas, é que passou a ser valorizado de outra forma — não só pelo tema, mas pela exploração plástica, formal e estética.
Por fim, também adoro as suas pinturas pela paleta de cores utilizada (suave, feminina e romântica), que imprime um toque muito poético e intimista às suas obras, e que convidam à contemplação e ao slow living.
Pequenas, modestas e simples, a suas obras mostram-nos que a beleza também pode ser encontrada nas coisas mais simples e banais da vida. Às vezes é simplesmente a forma como olhamos as coisas.
Um Poema
E porque para mim arte, cor e beleza tem a ver com esperança, termino com um poema de Barbara Kingsolver chamado justamente "Como ter Esperança" (no original "How to be Hopefull") que me parece adequado aos tempos em que vivemos.
Coloquei aqui uma tradução mais livre, mas podem ler a versão original aqui.
Como irão ler, não se trata de um texto teórico ou sério sobre esperança, mas uma espécie de manual poético, cheio de instruções absurdas ou inesperadas, que sugerem que manter a esperança é um acto contínuo, feito de criatividade, impulso, e pequenos gestos quotidianos. Ou seja, mais do que um processo lógico, é um improviso criativo.
Aqui vai:
Como Ter Esperança
de Barbara Kingsolver
"Olha, mais vale saberes já,
este dispositivo vai precisar de reparos sem fim:
cola de borracha, elásticos, tapioca,
o quadrado da hipotenusa,
romances do século XIX, nascer do sol –
qualquer um destes pode ser útil. Também penas.
A ignição é complicada. Às vezes
tens de estar num declive
onde as coisas parecem possíveis. Ou numa linha
que desenhaste tu próprio. Ou na fila do supermercado,
a fazer caretas secretamente a um bebé
por cima do ombro da mãe dele.
Pode ser que tenhas de arrancar de embraiagem
e correr para lá das provas. Para lá de todos
os que rezam por ti. Ultrapassar
todos os recordes anteriores é aceitável, ou passar
estranho. Só não passar ao lado.
Ou estacionar e voar à sorte.
Sem nada no banco, ainda assim
vais querer apanhar o expresso. Passar na ponta dos pés
pelos cães do apocalipse
a dormir à sombra do teu futuro.
Pagar à janela. Vais ficar surpreendido:
a esperança também se pode passar como um cheque sem cobertura.
Ainda tens tempo, é isso.
Para o tornar bom."
Gosto logo do início, em que a poeta trata a esperança como uma máquina frágil que se avaria e precisa de manutenção constante. A lista de coisas necessárias é ligeiramente absurda e variada como materiais concretos (cola, elásticos); ideias (o quadrado da hipotenusa); arte (romances), fenómenos naturais (nascer do sol), elementos leves e inúteis mas bonitos, como penas. Esta mistura do utilitário com o poético sugere que a esperança se alimenta várias coisas, nomeadamente: lógica, beleza, memória e imaginação.
"Ultrapassar
todos os recordes anteriores é aceitável, ou passar
estranho. Só não passar ao lado."













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