E hoje partilho mais um capítulo do livro A Grande Magia, cujo título "Encantamento" combina na perfeição com o local onde escrevi e fotografei este post: o jardim do Palácio Marquês da Fronteira. Não sei se o conhecem, mas na minha opinião é um dos jardins mais bonitos de Lisboa, que derrama sobre mim doses consideráveis de encantamento sempre que lá vou. (Para quem não viu o post de ontem e não o conhece, é só espreitar aqui).
Mas voltando ao livro, este é um capítulo muito curioso pois a autora tem uma visão muito particular e interessante sobre os processos da criatividade, que segundo ela "se baseiam completa e descaradamente no pensamento mágico". Vão ver que não é uma visão nada científica ou rigorosa, mas não consigo deixar de simpatizar e pactuar com ela.
Ela acredita que o nosso planeta é habitado por ideias e que estas são "uma forma de vida energética, incorpórea (...) completamente separada de nós, mas capaz de interagir connosco, ainda que de um modo estranho." E basicamente o que elas procuram é concretizar-te através de nós, seres humanos, e fazem-no através daquilo que vulgarmente chamamos de inspiração ou sinais.
Calafrios, o estômago embrulhado, os pensamentos agitados, aquela sensação de que parece que nos estamos a apaixonar ou a ser dominados por uma obsessão, são alguns dos sintomas mais comuns quando as ideias começam a interagir connosco. E quando isso acontece, só temos 2 hipóteses: dizer que sim ou que não à inspiração.
Se dissermos que não já todos sabemos qual é o desfecho. Mas se dissermos que sim, é então que as coisas se começam a tornar simultaneamente interessantes e complicadas, pois há que seguir em frente, tentar cumprir o nosso contrato com a inspiração e chegar ao imprevisível resultado. Sendo que, segundo Gilbert, devemos cooperar com as ideias de uma forma plena, humilde e alegre e não com drama ou temor.
Muitos de nós fica angustiado nesta fase, ansioso e com medo. E acredito que isso acontece porque no fundo acho que damos demasiada importância ao que o mundo vai pensar de nós e das nossas ideias. Mas se resistirmos à "sedução da grandiosidade, da culpa e da vergonha" acredito que nos conseguimos mais facilmente apaziguar e prosseguir o trabalho. Porque no fundo, fazer o trabalho é o que verdadeiramente importa.
Elizabeth Gilbert diz que por vezes acha que a inspiração está ali sentada a um canto, a vê-la trabalhar, dia após dia, semana após semana, só para se certificar de que ela não está a brincar, de que está realmente empenhada e comprometida naquele esforço criativo. Quando a inspiração está convencida de que ela não está a fingir que trabalha, às vezes aparece para oferecer ajuda. "Seja como for, trabalho sempre. Com ou sem ajuda. Trabalho de maneira constante e agradeço sempre pelo processo. Seja ou não tocada pela graça, agradeço à criatividade por me permitir, ao menos, interagir com ela." Porque ela não vai não vai comparecer se nós não fizermos a nossa parte.
No entanto há também que perceber e aceitar que a criatividade não tem qualquer obrigação para connosco e que nada nos deve. Se um projeto (fruto de uma ideia inspiradora) em que nos empenhámos a fundo não der certo, podemos e devemos sempre encará-lo como uma experiência válida e construtiva. E quando chegarmos ao final podemos agradecer à criatividade por nos ter acompanhado nessa viagem pois com ela foi tudo mais interessante e apaixonante.
Elizabeth Gilbert diz ainda que ao longo da nossa vida não podemos esperar que a inspiração se encontre sempre disponível para nós. "Ela vai e vem e é preciso deixá-la ir e vir. Mas quando ela aparecer, devemos sempre recebê-la com o coração deslumbrado".
P.S. Se gostaram deste capítulo poderão (re)ler o anterior sobre a CORAGEM, aqui.
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